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A nossa vida de Capuchinho

As redes sociais são espaços ou estruturas formativas na internet para facilitar a conexão baseada sobre os interesses ou valores comuns. Através delas, rapidamente se criam relações entre indivíduos ou empresas, sem levar em consideração as hierarquias ou limites físicos- temporais. As redes sociais ajudaram as pessoas a estarem em contínuo contato, a criar relações que ultrapassam o tempo e o espaço, e para as empresas e organizações, a oportunidade de divulgação e venda dos seus produtos e serviços. Pouquíssimas pessoas no passado imaginaram que as redes sociais teriam tão grande impacto como acontece hoje. Entretanto, o desejo de conectar-se com pessoas de outras partes do mundo fizeram com que as pessoas e organizações cada vez mais mergulhassem de cabeça neste mundo.

Se é verdade que esse fenômeno fez com que o mundo de hoje chegassem a uma velocidade de comunicação e conexão sem precedentes, também nos trouxe a tona um desafio: temos esse instrumento nas nossas mãos, mas devemos aprender a usá-los.

A Igreja e a Ordem são abertas ao uso das redes sociais, sabendo que isso leva consigo um  enorme desafio para as nossas vidas, porém compreendendo ser essencial adentrar-se neste novo mundo (novo continente) sem perder de vista a nossa missão e identidade. As nossas Constituições nos dão importantes direcionamentos no que diz respeito ao uso destes novos meios tecnológicos, e por conseguinte, as atuais redes sociais:

“Os meios de comunicação social contribuem para o desenvolvimento das pessoas e a expansão do Reino de Deus. Mas sua escolha e uso requerem maturidade de avaliação e moderação, evitando aquilo que esteja em contraste com a fé, com a moral e a vida consagrada”. (Const. 96, 1)

A Igreja e a Ordem nos convidam repetidamente a entrar neste novo mundo de modo responsável e com critérios concretos, que não outros que levar a Palavra de Deus e confrontar pastoralmente estes novos espaços de evangelizações. Nos convidam a entrar, conhecer e refletir sobre estes novos espaços digitais, para fazer um bom uso de evangelização.

Contudo, não podemos esquecer dos desafios que implicam entrar neste mundo. Gostaria de falar-lhes sobre dois desafios concretos e sempre presente, que, na minha opinião, são de grande importância.

Desafios sobre as redes sociais

O desafio da identidade- liberdade: sabemos que as redes sociais nos proporcionam um vasto campo para trabalhar e fazer muitas coisas, deixando-nos uma liberdade de expressão, que em comparação com algumas realidades da vida real, é muito mais ampla. Por conseguinte, pode se entender ou apresentar-se como um lugar onde posso manifestar meus desejos e opiniões sem me preocupar dos critérios ou das opiniões daqueles que estão no outro lado da tela. Nas redes sociais não existe praticamente nenhum limite, excetuando as políticas de privacidade das empresas que fazem parte destas redes sociais. Os critérios estabelecidos nestas diretrizes são frequentemente relegados às leis de comunicação das regiões (que geralmente são débeis) ou simplesmente opiniões comerciais. Até hoje, o conceito de liberdade nas redes sociais ainda é um problema que ainda está sendo discutido. Por exemplo, a notícia de um jovem de Buffalo- EUA, que em maio de 2022 transmitiu ao vivo quando entrou em um supermercado para matar 10 pessoas.

Ao interno das redes sociais, em suma, contornar as relações sociais a que estamos acostumados na vida quotidiana.

Como resultado do conceito equivocado de liberdade, nas redes sociais surgiram um problema comum, a questão da “dupla identidade”. Em outras palavras, a pessoa pode apresentar-se de maneira totalmente diferente daquilo que é em realidade, o que gera graves consequências para a própria pessoa e para quem entra em contato com ela.

Os riscos mais graves de abuso das redes sociais são, excetuando a  dependência, o acesso à conteúdos inapropriados, os assédios ou a perda da privacidade. Assim, na internet é possível aceder a conteúdos pornográficos ou violentos, mensagens racistas, incentivos à anorexia, ao suicídio ou cometer delitos (por exemplo, corridas ilegais de automóveis em vias públicas). “Há ainda a possibilidade de criar uma identidade fictícia, enriquecida com características de autoengano ou fantasia. Todavia, a confusão entre o íntimo, o privado e o público que gera confusões. (Becoña, E. (2006). Dipendenza dalle nuove tecnologie. Vigo: Nova Galicia, Editions.)

“Info-obesidade”

Nos últimos anos  se desenvolveu uma teoria antropológica como resultado da saturação de informações das quais somos expostos diariamente nesta cultura altamente digitalizada. Esta teoria chama-se info- obesidade” o sobrecarregamento de informações. Este é um fenômeno que se percebe quando a quantidade ou intensidade das informações superam a capacidade limitada da nossa humanidade de refletir ou elaborar tais informações. Normalmente este tipo de situação hoje se verifica dentro das redes sociais, onde há abundantíssimas fontes de informações que podem ser vistas, escritas, escutadas, notícias que geralmente se encontram a milhares de quilômetros de distância, comentários negativos (haters) ou simplesmente informações distorcidas, ou de procedência duvidosa (fake news).

Este estado embriagante de informações onde a abundância destas (geralmente inúteis, equivocadas ou incompletas) e o limite biológico de elaboração delas mesmas produz no ser humano uma série de reações como a ansiedade, desinformação, isolamento ou, por outro lado, acreditar que se trata de uma regulamentação da comunicação moderna e acabando no dever de partilhar tudo o que faço, penso ou digo, violando a liberdade, a intimidade e perdendo a própria identidade.

Como capuchinhos, como deveríamos estar presentes nestes novos espaços digitais?

Privacidade: Antes de tudo, é importante aprofundar um aspecto que é constante nas redes sociais que é o “personalismo”. Sabemos que os perfis nas redes sociais são pessoais e podemos fazer aquilo  que queremos com eles. Entretanto, neste aspecto devemos ter claro que, se bem estes espaços são pessoais, nós pertencemos a uma instituição e temos a missão de mostrar ao mundo um estilo de vida, um carisma. Por isso o nosso modo de nos mostrar neste mundo deve ser como frades menores, pois o nosso objetivo de estar presente nestes espaços digitais é a evangelização e o testemunho da nossa vida. Deste modo, evitemos, em muitos casos, de transformar as redes sociais em lugares de fuga, em vez de um lugar de encontro.

Como somos: O nosso modo de vida se baseia em viver o santo Evangelho em todas as realidades, e isso inclui estes novos espaços digitais, que hoje mais que nunca precisam da nossa presença. O nosso estar nestes espaços não deve ter outro objetivo que mostrar o nosso modo de viver através do testemunho e do ser frade.

Neste sentido devemos ter presente nas redes sociais, procurando sempre estabelecer  relações transparentes que considerem a fraternidade evangélica e mostrando ao mundo o nosso modo de ser menores, homens de paz, através das nossas publicações, palavras e ações.

Fraternidade: ser irmão é a centralidade do nosso modo de viver, por isso as nossas fraternidades desenvolvem um papel muito importante no modo como nos comportamos diante das nossas redes sociais, por isso é tão importante escutar dos nossos irmãos, se necessário, os conselhos e opiniões sobre o modo como administramos estes espaços.

Uma última proposta: um claustro virtual

Sabemos que na nossa vida existe uma dimensão íntima e contemplativa, por este mesmo motivo devemos limitar as nossas publicações e espaços para entrar nas redes sociais, pois, se bem temos a oportunidade de publicar aquilo que queiramos, é sempre bom respeitar alguns espaços que devem permanecer na intimidade das nossas relações fraternas. Recordamos que o nosso objetivo é testemunhar, pensar  e cuidar dos "mais pequenos do Reino". Na nossa vida quotidiana deveria estar sempre presente estes claustros virtuais de desconexão e intimidade.

Fr. Francisco Castillo Ramírez

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